terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Orgulho e Preconceito


Pride and Prejudice - Jane Austen

Como eu já falei para vocês sobre como "descobri" meu livro preferido, chegou a hora de falar um pouquinho sobre o livro em si.

O livro inicia de forma simples: um rapaz (Bingley) de boa fortuna aluga uma casa em uma pequena comunidade (Hertfordshire) no interior da Inglaterra. A partir de então começa a se relacionar com os moradores do local.


Para ilustrar como será a base do relacionamento de Bingley com os habitantes do Hertfordshire, Jane Austen inicia o livro com uma frase repleta de ironia sutil: "It is a truth universally acknowledged, that a single man in possession of a good fortune, must be in want of a wife." (É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de boa fortuna, deve estar necessitado de esposa.)

A partir daí ela apresenta aos Bennets, uma família local composta pelos pais (Mr and Mrs Bennet) e suas cinco filhas (Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia). Através de um diálogo de Mrs Bennet com o marido onde esta mostra toda a sua superficialidade e ele toda sua ironia.

Bingley trouxe para sua nova casa suas duas irmãs (Caroline Bingley e Louise Hurst), seu cunhado (Mr Hurst, quase uma samambaia de tão decorativo) e seu melhor amigo Mr Fitzwilliam Darcy (Mr Darcy para os íntimos).

Um baile local é a oportunidade de apresentar Charles Bingley e seus companheiros aos moradores (e aos leitores, é claro). Bingley é um rapaz de boa índole que se encanta com Jane (a mais velha das Bennets), e os dois iniciam uma espécie de relacionamento (não dá para contar com Jane Austen quando o assunto são beijos, abraços e amassos, pois tudo fica no platônico).

Mr Darcy, que aparentemente não possui a boa índole do amigo, se mostra enfadado durante o baile e angaria a antipatia de Elizabeth Bennet ao se referir a ela nos seguintes termos: "She is tolerable; but not handsome enough to tempt me; and I am not humour at present to give consequence to young ladies who are slighted by other men." (É tolerável, mas não tem beleza suficiente para tentar-me. Não estou disposto agora a dar atenção a moças que são desprezadas pelos outros homens).

Elizabeth é a protagonista do livro, aos poucos a autora mostra o seu caráter e sua beleza (aparentemente no dia do baile ela deve ter tido o equivalente a ter hoje me dia um "mau dia capilar"). Ao longo do livro, por razões diversas, a antipatia de Elizabeth por Darcy vai crescendo da mesma maneira que a admiração de Darcy pela antes desprezada Elizabeth.

Agora eu aconselho que quem AINDA não leu Orgulho e Preconceito que pare por aqui e vá ler o livro antes de terminar de ler esse post. A partir daqui o post estará recheado de spoilers.




Atenção: SPOILERS

Há então toda uma explicação sobre uma suposta diferença de classes entre eles, mas nada intransponível, e de como Darcy luta dia a dia contra seus sentimentos: "...and Darcy, after a few moments recollection, was not sorry for it. He began to feel the danger of paying Elizabeth too much attention." (...Darcy, depois de refletir um instante, conformou-se com isto. Começava a sentir o perigo que havia em prestar muita atenção a Elizabeth...); "...Mr Darcy corroborated it with a bow, and was beginning to determine not to fix his eyes on Elizabeth, ..." (...Mr Darcy confirmou com uma reverência e estava a ponto de tomar a resolução de não olhar para Elizabeth...)

Um dia, incapaz de se conter, Darcy finalmente diz o seguinte para Elizabeth: "In vain have I struggled. It will not do. My feelings will not be repressed. You must allow me to tell you how ardently I admire and love you." (Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos, e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente.). Para o leitor, que já conhece o caráter e as preferências de Elizabeth, não é nehuma surpresa a recusa que esta apresenta à mão e ao coração de Darcy, mas é com enorme surpresa que ele recebe essa recusa e descobre que é preciso mais que ter uma boa fortuna para agradar uma mulher digna de ser amada.

No fim de tudo, Darcy consegue conquistar o amor de Elizabeth e o livro tem um duplo Happy End com Darcy e Elizabeth morando próximos a Bingley e Jane (que também se casam).

Eu não nego que adoro toda parte romântica desse livro (e que desde que li pela primeira vez a declaração de amor que Darcy fez a Elizabeth comecei a torcer por ele) , mas não é só essa história de amor com uma reviravolta que faz o livro ser uma obra prima.

O que faz esse livro ser uma obra prima é todo cuidado que Jane Austen teve ao construir a trama (muito bem amarrada) e os personagens. Eles são profundos, entendemos seus medos, seus anseios e suas motivações. Alguns (Mr Collins, Mrs Bennet, Lydia Bennet) são tão ridículos com suas pretenções e poses que em determinados momentos me dava vontade de parar de ler tal era a magnitude da vergonha alheia que eu sentia.

Acho que uma das minhas partes preferidas é quando Darcy e Elizabeth se reencontram em Pemberley (alguns meses depois dela ter recusado o pedido dele) e ele se mostra, como o gentleman que é, disposto a conquistar o amor dela. Ai ai.

O livro, é claro, gerou algumas adaptações para o cinema e para a TV. Para quem ainda não assistiu nenhuma eu recomendo a série da BBC com Colin Firth no papel de Mr Darcy e Jennifer Ehle como Elizabeth Bennet.





Como este é meu livro preferido, possuo atualmente três edições dele: uma em português (cuja foto ilustra o início desse post) e duas em inglês.

Uma das edições que possuo em inglês é essa aí embaixo, que está no livro com as obras completas da Jane Austen. Uma edição linda, com papel bíblia e encadernação hard cover.




A outra edição é uma em formato "pocket" com hard cover, sobrecapa em papel cuchê e páginas com bordas douradas. Simplesmente linda! Ganhei semana passada de presente da Fê.

Vocês podem conferir a foto aí embaixo.


Quem souber de outra edição caprichada assim desse livro, pode me falar, porque esse é o tipo de livro que vale a pena ter várias edições diferentes.

Para quem me acha louca por causa disso eu deixo as palavras de uma velha reportagem da revista Diálogo Médico que eu recortei e guardei e que infelizmente não sei quem escreveu: "Assim como, quando amamos alguém - pai ou filho, amigo ou namorada- gostamos não apenas do interior da pessoa, mas também de sua fisionomia, suas mãos, seu modo de caminhar, os grandes amantes da literatura prezam não só o conteúdo imaterial e abstrato que um volume impresso veicula. Quem gosta de ler tem um carinho especial pelo livro em si, pelo objeto feito de tinta, papel e barbante fino, sem o qual não existiria a comunicação entre escritor e leitor, através do espaço e do tempo."



PS: As traduções que eu postei do livro foram retiradas da edição brasileira, do Círculo do Livro, e são de Lúcio Cardoso.